domingo, 3 de janeiro de 2016

o poder das manhãs :

                                                                                                                                    nadia adu-gyamfi
                           

As manhãs têm o poder todo. Decidem como vais descer aquela rua,  como vais dizer "bom dia" a um estranho, se olhas para o chão enquanto caminhas ou se ergues a cabeça para sentir o vento, muda-te as gargalhadas. Numa palavra, inverte-te. 

Fecha as manhãs. Dá-lhes feriado. Apaga-as do calendário de parede. Carrega no skip. Deixa que passem por ti como horas mortas. Ressuscita-as na noite seguinte. Abre-lhes espaço. Afasta-as da pele. Procura a luz da madrugada. Maquilha-te de vermelho. Energiza. Esquece. Ou finge que esquece. 

Encerra o que ouves. Escreve "fechado" à porta. Gira-te. Foca. Abandona o desfocado. Limpa as chuvas. Veste botas de borracha. Calça o sobretudo que te protege de quase tudo. Aperta os botões. O do forward.  Arranca o rewind. De ti. Deixa o resto em estado vintage. O pó cheira sempre a nada.



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