quinta-feira, 21 de março de 2013

"when your heart stops beating, you'll keep tweeting"

                                                                                                                                                         olivia sebastianelli
A frase foi retirada daqui. E resume basicamente a forma como a nova rede social LivesOn está a vender-se. Ou como, muito resumidamente, está a fazer negócio à custa de quem morre. É um novo estilo de funerárias, mas com muito delay ou em slowmotion. E o que aquela rede social vai fazer é isto: continuar a publicar tweets na conta de utilizadores que já foram dar uma volta e não voltaram. Como? Diz que um robô digital vai compilar e analisar todo o rasto deixado por um utilizador no Twitter e no Facebook durante a sua vida. Depois o objectivo é criar a simulação de conteúdos semelhantes e continuar a publicá-los naquele mesmo perfil de utilizador ... já morto.

Esta primeira rede social para defuntos foi criada pelo britânico Dave Bedwood e será lançada ainda este ano. A ideia ocorreu-lhe após ter visto uma cena numa série na televisão em que uma miúda falava com o namorado fantasma. Pois, muito gira a imaginação, mas é impressão minha ou isto não é uma coisa mais de mil vezes vista na arte da interpretação e na Sétima Arte e por aí fora? E também não me parece bem o que esta rede social vai contar sobre mim. Ora bem, estou eu a fazer tweets sobre um artigo que acabei de ler sobre o corte de mais salários, sobre a nova exposição da Joana Vasconcelos no Dubai, sobre o novo concerto que vou ver no próximo Verão quando, na realidade, estou lá em baixo às escuras. 

E como é depois? Os meus amigos vão partilhar o meu post? Vão comentar o quê?: "Tens razão: este país está nas últimas. O remédio é emigrar". (Mas qual remédio? Só se for o dele porque eu já estou remediada). E as minhas fotos vão ser sobre o quê? Sobre a minha cadeira vazia no escritório, sobre a minha roupa no armário que nunca mais foi lavada, sobre o jantar que não tive com os meus amigos? E depois é uma questão de coerência. E se o tal robô me trama e publica coisas com as quais não concordo? Vou reclamar com quem? Pois, com ninguém: não dá, não consigo. E vinte anos depois quando alguém pesquisar o meu nome na internet vai ficar confuso: "o quê? Mas ela não morreu em 2070? Como ela conseguiu fazer este tweet sobre um novo chocolate branco em 2073?" 
 
Ora bem, é tudo muito divertido, mas isto não tem graça nenhuma. Dá para entender que a malta gostava de viver forever, mas no sentido literal do termo. Tipo, vivo e não fantasma, ainda mais (ou menos) fantasma cibernético, com perfis falsos e declarações programadas por um qualquer computador. Só falta dizer que as fotos do meu perfil no Facebook vão ser projectadas e redesenhadas conforme os cremes anti-rugas que usei em vida.  O Dave Bedwood está é mortinho para se tornar no novo Mark Zuckerberg. 

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