sexta-feira, 16 de novembro de 2012

os outros ali tão perto :

                                                                                                     charlotte oleena
 
Tinha acabado de sair do concerto desta noite numa das zonas que mais gosto na cidade. Estava frio, mas não o suficiente para me obrigar a pôr o cachecol enrolado ao pescoço. Mas coloquei-o na mesma. Precisava do quente daqueles minutos, enquanto caminhava ao lado de um dos colegas e de um dos professores mais brilhantes que já tive na vida. Quando percebeu que, sempre que as aulas acabam tarde, tenho alguém que me vem buscar, ele ofereceu boleia para qualquer eventualidade. Disse que me trazeria a casa porque mora perto. Ele e a mulher. Conheço-a há uns anos através de e-mail, sem nunca ter associado o endereço electrónico a uma face. Já me tinha cruzado com ela, mas só há duas semanas nos apresentamos, sem que fosse preciso ele estar.
 
Hoje voltei a encontra-lá e o cumprimento foi diferente. Foi de quem sabe quem sou, de quem já me leu, de quem sabe o que faço, de onde venho e porque estava ali, com ele. É estranho imaginar que falam de mim enquanto jantam, partilham um disco ou um livro. É estranho eu estar lá, com eles, depois de anos sem nunca nos vermos e sempre a uma distância tão ténue. Dentro do carro, chegou-me a exaustão. Faltavam poucos minutos para ser meia-noite e ainda tinha tudo para fazer: calçar as pantufas, colocar os óculos, comer algo, aquecer-me à lareira, ver uma série enrolada em mantas. Se não tenho tempo, não gosto de fazer tudo isto e hoje é uma dessas noites.
 

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